Maçonaria

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Morphosyntactic classification

Maçonaria é um Substantivo, feminino singular ;

Sociedade de âmbito mundial, de caráter reservado, que tem como símbolos a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade entre seus membros.

Por sua natureza reservada, qualquer evento ou coisa que possam ser considerados secretos são de forma análoga considerados como "coisa de maçonaria".
  


A Maçonaria é uma instituição essencialmente filosófica, filantrópica, educativa e progressista.

É filosófica porque em seus atos e cerimônias tratam da essência, propriedades e efeitos das causas naturais. Investiga as leis da natureza e relaciona as primeiras bases da moral e da ética pura.

É filantrópica porque não está constituída para obter lucro pessoal de nenhuma classe; pelo contrário, suas arrecadações e seus recursos se destinam ao bem-estar do gênero humano, sem distinção de nacionalidade, sexo, religião ou raça.

Sobre as origens da maçonaria têm-se gasto rios de tinta e escrito as mais fantasiosas histórias. Desde os mistérios de Elêusis ao rei Salomão e à Ordem do Templo, tudo tem servido a maçons, desejosos de exaltar a antiguidade da Ordem, e a profanos não menos desejosos de denegrir essa mesma Ordem, para escreverem patranhas e balelas, constrangedoras pela ingenuidade e ignorância que revelam.
  

S.f. sociedade secreta cuja doutrina tem como rótulo a fraternidade e a filantropia universais e que usa como símbolo os instrumentos do pedreiro e do arquiteto (o triângulo e o compasso); franco-maçonaria.
MAÇONARIA EM PORTUGAL. A introdução da Maçonaria em Portugal remonta ao segundo quartel do séc. XVIII. Talvez por 1727, foi fundada por comerciantes britânicos estantes em Lisboa uma loja que ficou conhecida nos registos da Inquisição como dos Hereges Mercantes, por serem protestantes quase todos os seus membros. Esta loja veio a regularizar-se em 1735, filiando-se na Grande Loja de Londres, onde obteve, primeiro, o número de registo 135 e, depois, o 120. Só em 1755 seria abatida ao quadro das lojas de presidência londrina, embora provavelmente não trabalhasse desde havia muito. A Inquisição não a incomodou, por certo devido à nacionalidade e à homogeneidade profissional dos seus participantes, protegidos pelos tratados com a Inglaterra.
Em 1733, fundou-se uma segunda oficina em Lisboa, denominada Casa Real dos Pedreiros-Livres da Lusitânia. Os seus obreiros eram agora predominantemente católicos. Conhecemos os seus nomes, nacionalidades e profissões. Tratava-se sobretudo de irlandeses, tanto comerciantes como mercenários no exército português, mas havia também marítimos, médicos, três frades dominicanos, um estalajadeiro, um cabeleireiro e até um mestre de dança. O irmão desta loja que viria a ser mais famoso era o húngaro Carlos Mardel, oficial do exército mercenário e arquiteto de nome, a quem Lisboa tanto deve. Em 1738, ao ser promulgada a bula condenatória de Clemente XII, a loja dissolveu-se.
A terceira oficina criada em terra portuguesa conheceu destino mais trágico. Fundou-a, em 1741, em Lisboa, o lapidário de diamantes John Coustos, nascido na Suíça mas naturalizado, depois, inglês. Durou cerca de dois anos, ingressando nela uma trintena de estrangeiros residentes em Portugal, a maioria franceses, mas com alguns ingleses também, ao lado de um belga súbdito do Império, um holandês e um italiano. Eram quase todos católicos, embora Coustos, o venerável, fosse protestante e outros, poucos, como ele. Quanto a profissões, praticamente todos estavam ligados ao comércio, com percentagem elevada de negociantes e lapidários de pedras preciosas, ouro e prata.
Denunciados à Inquisição em 1742, os maçons da loja de Coustos foram presos, torturados e sentenciados, sendo o venerável e os dois vigilantes condenados a vários anos de degredo e serviço nas galés. Por intervenção estrangeira, porventura de outros maçons, libertaram-nos, porém, ao fim de algum tempo, com a condição de saírem do País.
A perseguição de 1743 desmantelou este primeiro esboço de organização maçónica em terra portuguesa. A Maçonaria só tomou de novo força e vigor na década de 1760-70, mercê de uma maior tolerância governativa. O marquês de Pombal - homem esclarecido e estrangeirado que, porventura, se documentara sobre a Maçonaria ou fora mesmo iniciado no seu período de residência fora do País - deixou os pedreiros-livres em paz, ao mesmo tempo que quebrava as garras da Inquisição e a convertia em dócil instrumento do poder do Estado. Em 1763, assinalava-se, em Lisboa, pelo menos uma loja de raiz inglesa, existindo na capital uma oficina mais, mista de militares e civis predominante ou exclusivamente estrangeiros. Na mesma data parece terem trabalhado também, uma loja em Coimbra e lojas militares em Valença e Eivas ou Olivença, pelo menos. Em 1767, fundava-se, no Funchal, uma loja onde entraram, de certeza, obreiros portugueses, pertencentes à nobreza e à alta burguesia locais, ao lado de alguns ingleses e franceses também. Na década seguinte, esta loja adormeceu durante alguns anos, retomando atividade a partir de 1779.
Com a «viradeira», tornaram as perseguições. Inquisição e polícia deram caça à «pedreirada», cujo volume ia avultando e inquietando os defensores da ordem estabelecida. Por 1778, havia oficinas perfeitas ou simplesmente maçons desgarrados em vários pontos do País, como Lisboa, Coimbra, Valença e, vimo-lo já, Funchal. Em 1790 temos testemunho certo dos trabalhos, em Lisboa, de uma loja (chamada de D. André de Morais Sarmento), onde participaram uns 23 obreiros, 10 pela burguesia, 6 pela baixa nobreza militarizada, 4 pelo clero e 3 pelas colónias estrangeiras. Na Madeira, no mesmo ano, havia duas lojas, e três em 1791, com um povo maçónico calculado em mais de 100 pessoas. Há ainda notícia da atividade maçónica em Cabo Verde (ilha de Santiago) e nos Açores (São Miguel). No Porto, existiu talvez uma loja em 1792.
As perseguições de 1791-92 desmantelaram, pela segunda vez, a organização maçónica portuguesa. Tanto em Lisboa como no Funchal e alhures, os irmãos foram presos e impedidos de se continuarem a reunir. As lojas tiveram de abater colunas e esperar dias melhores. Isso não impediu, contudo, o funcionamento esporádico de algumas, como aconteceu em Coimbra, Lisboa e Porto a partir de 1793.
Com o desembarque, em Lisboa, de um corpo expedicionário inglês, em Junho de 1797 - no quadro da guerra com a França -, introduziram-se as condições para que a Ordem renascesse. Logo em 1798 havia constituídas três lojas inglesas em Lisboa, ligadas a regimentos, além de uma quarta aceitando também civis e portugueses. Todas elas filiadas na Grande Loja de Londres, receberam os n.ºs 94, 112, 179 e 315. Esta última teve, para a história da Maçonaria portuguesa propriamente dita, um papel relevante, visto ter sido, anos depois, considerada a loja n.º 1, quando se começaram a dar números às oficinas nacionais. Foi a loja União.
Até 1804, outras lojas se criaram e, ao lado delas, muitos maçons e simpatizantes foram ganhando diversas cidades e vilas do País. Além do pessoal estrangeiro, numeroso e recrutado, como cinquenta anos atrás, entre os mercenários do exército, os comerciantes e industriais e o próprio clero, a comparticipação de cidadãos portugueses tocava já variados grupos sociais e ecoava em nomes ilustres nas letras, nas ciências e nas artes: abade Correia da Serra, Filinto Elísio, Ribeiro Sanches, Avelar Brotero, Domingos Vandelli, José Anastácio da Cunha, José Liberato Freire de Carvalho, Domingos Sequeira. A Maçonaria nacional recrutava-se, sobretudo, entre a oficialidade do exército e da marinha, o professorado, o comércio e a indústria, a burocracia civil e eclesiástica. Em menor percentagem existiam irmãos clérigos e aristocratas terratenentes. Era, em suma, a burguesia esclarecida quem sobretudo preenchia os lugares das oficinas.
Nos começos do séc. XIX, o número de lojas e de filiados justificava já uma organização bastante completa da Ordem, consoante os modelos britânico e francês. Em 1801, realizou-se em casa de Gomes Freire de Andrade (embora sem a sua presença) uma assembleia geral de maçons portugueses, com a comparência - reza a tradição - de uns 200 irmãos. Reconheceu-se a necessidade de criar urna Grande Loja ou Grande Oriente Português, que substituísse a Comissão de Expediente, de seis membros, instituída para coordenar as atividades da Ordem. Para o efeito, deslocou-se a Londres, em 1802, o irmão Hipólito José da Costa, que negociou e obteve o reconhecimento. Nasceu, assim, o Grande Oriente Lusitano. Como seu primeiro grão-mestre foi eleito o desembargador Sebastião José de São Paio de Melo e Castro, neto do 1.° Marquês de Pombal. Quatro anos mais tarde, em Julho de 1806, votava-se a primeira Constituição maçónica portuguesa, com uma Loja e uma Câmara e Administração independentes, funcionários eleitos, legislaturas, etc. Dezasseis anos antes da Constituição liberal de 1822, este texto prescrevia e prenunciava as normas principais do ideário liberal, efetivado pelas Revoluções Americana e Francesa poucas décadas atrás.
Ao tempo da Constituição de 1806, trabalhavam em Lisboa oito lojas: União, Regeneração, Virtude, Amizade; Concórdia; Fortaleza; Amor da Razão; e Beneficência. Havia ainda lojas em Tomar, Porto, Coimbra, Setúbal, Funchal e Brasil. O número de maçons então existentes no Reino rondaria talvez os 500. Desde, pelo menos, 1800, que os irmãos portugueses, por compreensível medida de precaução, adotavam um nome simbólico ao serem iniciados. José Liberato Freire de Carvalho era o Spartacus. Num passaporte de 1804, que é o mais antigo documento subsistente dessa época heroica da Maçonaria lusitana, surgem os nomes simbólicos de Egas Moniz (o Grão-mestre), Cincinato (1.° Grande Vigilante), Tilo (2.° Grande Vigilante), Solou (Grande Administrador?), Anjou (Grande Chanceler), Aquiles (Grande Experto), Abner (Grande Orador), Graco (Grande Secretário, interino), Belisário (Grande Mestre de Cerimónias) e Wagisthon (Grande Tesoureiro).
As Invasões Francesas deram pretexto às autoridades para ajuntarem novo motivo de perseguir: o da traição à Pátria. Embora os maçons se tivessem recusado a eleger Junot como seu grão-mestre e a substituir, nas lojas, o retrato do Príncipe Regente pelo de Napoleão e embora, por esses motivos e outros, de exaltação patriótica, as autoridades francesas de ocupação começassem desde logo a perseguir a Maçonaria portuguesa, a verdade é que os elementos absolutistas e reacionários fixaram apenas, e procuraram fixar na memória do País, a mensagem de saudação que a Maçonaria dirigira a Junot quando da sua entrada em Lisboa, a qual resultava, tão-somente, das instruções deixadas pelo Príncipe Regente a todos os cidadãos. As lojas abateram colunas durante 1808, criando-se, como único corpo paramaçónico e de resistência, o chamado Conselho Conservador de Lisboa, onde militaram umas 200 pessoas.
Em 1809-10, desencadeou-se a terceira grande vaga de perseguições, com as prisões de Março do primeiro ano indicado e as de Setembro de 1810 que, uma vez mais, desmantelaram a Maçonaria. Só findo o período das Invasões Francesas e restaurada a paz interna se assistiu a um renascimento da Ordem, ao redor de 1813. Reiniciou os trabalhos a loja Regeneração, despertou, no ano seguinte, a loja Virtude, em Lisboa, ao lado da nova loja, Filantropia, em Santarém. A União, a Concórdia, a Beneficência, a Fidelidade e a Amizade reapareceram também. Mas foi sol de pouca dura. Em 1817, a quarta perseguição, terrivelmente feroz, levou ao cadafalso em S. Julião da Barra o grão-mestre Gomes Freire de Andrade e vários companheiros seus, executados no Campo de Santana, em Lisboa. À repressão de 1817 seguiu-se o alvará com força de lei de 1818 que, acrescentando-se à bula de Clemente XII, declarava «criminosas e proibidas todas e quaisquer sociedades secretas», incorrendo os seus membros em crime de lesa-majestade, com as severas penalidades consequentes, que podiam ir até à pena de morte e ao confisco dos bens. A Maçonaria portuguesa, sem nunca paralisar de todo, reentrou na clandestinidade. A maior parte das lojas abateu colunas, sendo criada, para centralizar toda a ação maçónica, a loja Segurança Regeneradora. Não se procedeu à substituição do grão-mestre, assumindo, coletiva e interinamente, as suas funções uma Comissão Administrativa de altos dignitários da Ordem. Tudo isto não impediu a fundação de, pelo menos, das oficinas, a Liberalidade em Eivas e a Sapiência em Coimbra, ambas em 1818.
Como vanguarda de todos os movimentos progressistas, a Maçonaria havia de visar a supressão do regime absoluto. Gomes Freire e os seus camaradas foram as almas da malograda conspiração de 1817. Maçons, igualmente, fundaram o Sinédrio, de onde saiu a revolução vitoriosa de 24 de Agosto de 1820. Eram maçons todos os grandes nomes do Vintismo: Fernandes Tomás, Ferreira Borges, Silva Carvalho, Borges Carneiro, etc. Em 1821, a composição da Grande Dieta patenteava eclesiásticos, magistrados, professores universitários, oficiais do exército e burgueses nobilitados, a elite, portanto, da burguesia, com pouca penetração da aristocracia terratenente. Vintismo e Maçonaria identificavam-se.
De 1820 a 1823, a Maçonaria portuguesa conheceu o seu primeiro período de apogeu e de aparecimento à luz do dia. O número de lojas multiplicou-se, existindo cerca de 40, tanto em Lisboa como na província. A Constituição maçónica de Outubro de 1821, cuja estrutura e até parte da fraseologia prenunciavam as da Constituição civil de 1822 - redigida por juristas maçons - era um longo e bem elaborado texto de 127 artigos, iniciando-se com uma declaração de direitos e deveres individuais, e continuando com uma declaração de direitos e deveres das lojas, uma organização tripartida de poderes (legislativo, executivo e judicial) e uma organização do governo ultramarino. Firmaram-na liberais ilustres como Agostinho José Freire (Séneca, 1.° Grande Vigilante) e Borges Carneiro (Camilo, Grande Arquivista Chanceler). Como Grão-Mestre, foi eleito o juiz Dr. João da Cunha Souto Maior, um dos membros do Sinédrio.
Com a Vilafrancada, a Abrilada e o regresso do absolutismo, os maçons voltaram a ser perseguidos, encarcerados e mortos. Foi a quinta perseguição. Os decretos de 1823 e 1824 reiteraram o alvará de 1818. As atividades à luz do dia tiveram de ser suspensas até 1826, já sob o grão-mestrado de Silva Carvalho. De 1826 a 1828, manifestou-se um curto renascimento, de que se sabe hoje muito pouco, e que logo soçobrou na sexta e violenta perseguição do Miguelismo. Todos os maçons alinharam, evidentemente, com D. Pedro IV, pedreiro-livre ele próprio e grão-mestre da Maçonaria brasileira. Não admira, pois, que a história da Maçonaria de então quase tivesse coincidido com a história da gesta liberal.
O triunfo definitivo do Liberalismo, em 1834, trouxe os maçons ao Poder, onde durante quase um século se iriam aguentar. O período de 1834-1926 marca, assim, o apogeu da implantação maçónica em Portugal. Tal como os políticos e a política, todavia, os maçons conheceram períodos de crise e períodos de divisão, ao lado de outros de robustecimento e incontestável unidade. O paralelo é flagrante: até meados do século, o Liberalismo atravessou um período difícil de consolidação, eivado de revoltas, de golpes de Estado, de perturbações políticas, económicas e sociais de toda a ordem. Outro tanto aconteceu com a Maçonaria: até meados do século, atravessou um período de divisões internas e de cisões, que puseram em perigo o lema da unidade e da fraternidade. Mas, superada essa autêntica crise de crescimento, foi possível tanto ao novo regime político como à Ordem Maçónica aprofundarem alicerces, cimentarem estruturas e fortalecerem-se para resistir aos combates que tinham de suportar.
Não existem, por enquanto, monografias de base a darem-nos o conhecimento profundo das cisões desse tempo. À superfície, eram as questões de ritual, as rivalidades individuais, as clientelas em torno de um chefe que motivaram as dissidências. No fundo existiriam razões mais graves de ordem social ou política a justificarem-nas.
O tronco da Maçonaria portuguesa foi, todavia, quase sempre o mesmo: o chamado Grande Oriente Lusitano. Entre 1849 e 1859, o Grande Oriente Lusitano chamou-se Grande Oriente de Portugal. A partir de 1869 passou a denominar-se Grande Oriente Lusitano Unido. O tronco, todavia, manteve-se o mesmo.
Desde 1826 e até meados do século, o Grande Oriente Lusitano representou a linha conservadora da Maçonaria, ligado como esteve à corrente política do Cartismo e sob o malhete supremo de individualidades cartistas de relevo: Silva Carvalho (Grão-Mestre de 1823 a 1839) e Costa Cabral (Grão-Mestre de 1841 a 1849). Este conservantismo suscitou variadas cisões: a de Saldanha, com o seu Oriente do Sul, a partir de 1828; e de Passos Manuel, com o seu Oriente do Norte, a partir de 1834; e, muito mais tarde, a de Elias Garcia, com a sua Federação Maçónica, em 1863. Estas três dissidências corresponderam, com antecipação, a correntes políticas que se foram formando no seio do liberalismo e disputando o Poder. Constituíram mesmo o sedimento de base dessas correntes, e as respetivas lojas funcionaram, não poucas vezes, como verdadeiros sovietes de decisões políticas ao nível nacional.
Do lado «direito» houve também cisões. O próprio Silva Carvalho abandonou, em 1839, o Grande Oriente, de que fora tantos anos Grão-Mestre, para constituir, com outros, o chamado Oriente do Rito Escocês, onde voltou a ser chefe supremo. Sucedeu-lhe Rodrigo da Fonseca Magalhães, outro afamado dirigente político do Cartismo.
O período de maiores desentendimentos entre os maçons ocorreu entre 1849 e 1867, quando coexistiram em Portugal a Grande Loja Provincial do Oriente Irlandês, o Oriente do Rito Escocês, a Maçonaria Eclética, o Grande Oriente de Portugal, o Grande Oriente Lusitano, a Confederação Maçónica e a Federação Maçónica.
O número de lojas aumentou regularmente. Vimos que eram pouco mais de uma dúzia no período do Vintismo. Pois em 1840, subscreveram a nova Constituição do Grande Oriente Lusitano nada menos de catorze lojas, funcionando então, simultaneamente, quatro Obediências maçónicas em Portugal.
Em 1843 havia, em toda a Maçonaria portuguesa, umas 80 lojas em funcionamento. A cabeça, vinha o Grande Oriente Lusitano, com 34, sendo 15 em Lisboa, 4 no Porto, 7 na província, 5 nas Ilhas Adjacentes e 3 nas colónias de África. Seguia-se o chamado Oriente Passos Manuel, com umas 17 lojas, no Porto e arredores (8), em outras localidades do distrito do Porto (3), nos distritos de Braga, Viana do Castelo, Vila Real e Bragança (4) e mesmo em Lisboa (2). Em terceiro lugar vinha o Grande Oriente do Rito Escocês ou Oriente Silva Carvalho, com 15 lojas. Era depois a vez do Oriente Saldanha, com 11 lojas, das quais 5 em Lisboa, 4 nos distritos do Centro e Sul, 1 em Angola e 1 em Goa. Por fim, existia a Grande Loja Provincial do Oriente Irlandês, com umas 3 ou 4 lojas.
Muitas destas lojas desapareceram mais tarde, quer por abaterem colunas quer por se fundirem com outras, na época das uniões de Obediências que conduziram, por fim, à restauração da unidade maçónica portuguesa. Diga-se de passagem que boa parte delas não passava de clubes políticos mais ou menos maçonizados que chegaram ao seu termo quando a Maçonaria entrou numa época de maior despolitização, correspondente à segunda metade do séc. XIX.
Outro aspeto importante do desenvolvimento da Maçonaria durante este período respeitou à instituição do primeiro Supremo Conselho português dos Grandes Inspetores Gerais do Grau 33, o mais alto corpo ritual do Rito Escocês Antigo e Aceite. Foi em 1841 que o Supremo Conselho do Brasil, já internacionalmente legitimado, e a pedido da Grande Loja do Grande Oriente Lusitano, concedeu aquele grau ao grão-mestre Costa Cabral, dando-lhe poderes para, por seu turno, o conferir a outros irmãos a fim de que, num futuro breve, se pudesse instalar em Portugal um Supremo Conselho. Este corpo, que autonomizou no País o Rito Escocês Antigo e Aceite - aqui fundado em 1837 -, começou, efetivamente, a funcionar em 1844, elegendo como seu chefe (Soberano Grande Comendador) o mesmo Costa Cabral. Aquele rito foi, a pouco e pouco, ganhando as lojas que antes trabalhavam segundo o Rito Francês ou Moderno, acabando por o substituir completamente. A coincidência entre as funções de Grão-Mestre e de Soberano Grande Comendador acabou de se institucionalizar em 1869, passando a Maçonaria portuguesa, então unificada, a denominar-se Grande Oriente Lusitano Unido, Supremo Conselho da Maçonaria Portuguesa.
Entre 1867 e 1872, tornou-se enfim possível conciliar a família maçónica desavinda. 1869 representou data importante neste processo de unificação, visto que três das quatro Obediências então subsistentes chegaram a acordo (o Grande Oriente Português - por sua vez já resultado de união anterior entre o Grande Oriente de Portugal, a Grande Loja Portuguesa, a Confederação Maçónica e a Federação Maçónica - e o Grande Oriente Lusitano), criando-se o Grande Oriente Lusitano Unido, sob o grão-mestrado do conde de Parati. Três anos depois, a Grande Loja Provincial do Oriente Irlandês integrava-se igualmente no todo, concluindo-se a unificação da Maçonaria portuguesa.
Desde então, e durante quase meio século, tornou-se possível manter unidade entre os maçons lusitanos, à exceção de breves cisões pouco duradouras (em 1872, 1882-84, 1884-86, 1893-94, 1894-95 e 1897-1904), e que mal afetaram o progresso da Ordem.
Foi o grande período da Maçonaria portuguesa. Ao seu robustecimento interno aliaram-se uma constante posição de vanguarda ideológica de tipo político-social e uma atividade prática notável em todos os campos da vida da nação. No grão-mestrado sucederam-se o conde de Parati (1869-81), Miguel Baptista Maciel (1881-85), Elias Garcia (1885-86 e 1888--89), António Augusto de Aguiar (1886--87) o visconde de Ouguela (1889-95), Bernardino Machado (1895-99), Ferreira de Castro (1900-06) Francisco Gomes da Silva (1906-07) e, por fim, Sebastião de Magalhães Lima (1907-28). O povo maçónico aumentou, no mesmo período, de cerca de meio milhar de irmãos, em 1869-70, distribuídos por 36 oficinas, para 1949 irmãos, em 1904, distribuídos por 85 oficinas, atingindo o seu número máximo em 1913: 4341 obreiros em 198 lojas e triângulos. A relação entre cada maçom e o número total de habitantes do País passara de 1/10 500 (1869) para 1/2750 (1904) e, por fim, 1/1380 (1913).
Em 1881 surgia a primeira loja de adoção.
Não se esqueça ainda esse fenómeno curioso subsequente à revolução espanhola de 1868 e à irregularidade maçónica que ao país vizinho sobreveio, que foi a agremiação de dezenas de lojas de toda a Espanha e das próprias possessões espanholas. Durante mais de dez anos, as Maçonarias portuguesa e espanhola estiveram unidas, numa prefiguração de União Ibérica, mas sob a égide do Grande Oriente Lusitano Unido. Em 1871, havia nada menos de 24 lojas de fala castelhana ou catalã obedecendo a Lisboa. Em 1887 ainda se contavam 8 destas oficinas, ao lado de uma loja romena e outra búlgara.
O Grande Oriente Lusitano Unido publicava, desde 1869, um Boletim Oficial mensal, e, embora com irregularidade, um Anuário onde se analisava a situação da Ordem. Instalara-se, desde começos da década de Oitenta, num amplo palácio no Bairro Alto, o que lhe conferia uma das melhores sedes de todo o Mundo.
Grande parte da elite do País estava filiada na Maçonaria. Presidentes do Conselho como o duque de Loulé, o duque de Saldanha, Joaquim António de Aguiar, Rodrigues Sampaio, Anselmo Braamcamp, José Luciano de Castro, José Dias Ferreira; ministros das várias pastas, como António Augusto de Aguiar, António Enes, Mendes Leal, Bernardino Machado, o bispo de Betsaida; políticos como José Estêvão Coelho de Magalhães, Elias Garcia e José Fontana; escritores como Camilo Castelo Branco, Antero de Quental, Inocêncio da Silva, Gomes de Brito, Brito Rebelo, Heliodoro Salgado; cientistas como Egas Moniz; artistas até, como Rafael Bordalo Pinheiro; todos estes e muitos outros foram obreiros das lojas maçónicas, distribuindo a sua atividade por épocas e localidades diferentes. No campo legislativo, a obra da Maçonaria inscreveu-se entre as grandes conquistas do progresso do tempo: abolição da pena de morte e da escravatura, criação de escolas aos níveis primário e secundário técnico segundo novos métodos de ensino, difusão da instrução nas colónias, instituição de asilos para crianças, combate ao clericalismo e começos da laicização das escolas, fundação de instituições capazes de organizarem a instrução e assistência segundo novos moldes, campanha a favor do registo civil obrigatório, etc. Os principais códigos de Direito foram subscritos por ministros maçons. Também a criação do júri se lhes deve. Todas estas medidas resultaram, em parte, de ação coletiva, sobretudo das lojas, que aliás não se conhece ainda com rigor. Mas o que não está de todo feito é a história da participação da Maçonaria ao nível individual, isto é, o impacte da ideologia maçónica e da pressão tácita da Ordem sobre os seus filiados ministros, parlamentares, altos funcionários, dirigentes de empresa e outros, a qualquer nível e em qualquer ramo do conhecimento e da vida nacional.
A análise dos temas debatidos nos vários congressos maçónicos e da forma como essa discussão foi orientada revela--se do maior interesse. Nas comunicações e intervenções patenteavam-se quase sempre posições de vanguarda ideológica e pragmática. Antes da República realizaram-se os congressos do Porto (1900), de Coimbra (1903), de Lisboa (1905) e Figueira da Foz (1906), o terceiro denominado Congresso Maçónico Interpeninsular, reunindo maçons da Espanha e de Portugal. Depois do 5 de Outubro tiveram lugar os congressos nacionais de Lisboa (1913), Porto (1914) e novamente Lisboa (1924).
Nos começos do séc. xx, a aproximação entre Maçonaria e republicanismo foi crescendo. Existiam, sem dúvida, obreiros monárquicos. Mas a grande maioria dos maçons abraçava o ideal republicano. Como força de vanguarda, era natural que a Ordem esposasse a causa de vanguarda. Sucedera outro tanto em 1820. Mas o que aconteceu foi recair-se precisamente no erro dos maçons dos começos do período liberal. A Maçonaria portuguesa tendeu a constituir um grupo elitário enquadrante de um partido político. E patrocinou ainda a constituição da Carbonária, alavanca decisiva da Revolução de 5 de Outubro de 1910.
Esta politização da Maçonaria resultou numa multiplicação das iniciações, dirigidas a finalidades que de maçónico só tinham parte. Com a proclamação da República a Maçonaria passou a ser olhada como qualquer coisa de útil, de pragmaticamente necessário no curriculum do candidato a ministro, a deputado ou a simples funcionário público. Os seus efetivos duplicaram em poucos anos, de 2000 para 4000 associados, com um correspondente aumento no número de lojas e de triângulos. No Parlamento, metade ou mais de metade dos representantes do povo pertencia à Ordem. No Governo Provisório (1910-11), 50% dos ministros eram maçons, percentagem que, grosso modo, continuou a existir nos muitos governos republicanos até 1926. Quanto às presidências, mais de metade dos ministérios foram presididos por maçons e a totalidade do seu tempo de governo elevou--se a nove anos e sete meses, ou seja, mais de 65% do período completo de vigência da República Democrática. Três presidentes da República - Bernardino Machado, Sidónio Pais e António José de Almeida - pertenciam à Ordem Maçónica. Tal como durante a Monarquia Constitucional, algumas das medidas mais progressivas adotadas pelo regime republicano tiveram participação das lojas e foram subscritas por ministros maçons. O âmbito da Maçonaria durante a l.a República está ainda por determinar cabalmente, mas não parece exagerado afirmar que a história das duas instituições apresenta paralelos do maior interesse e que o declínio de uma correspondeu ou foi, em grande parte, causador do declínio da outra.
Ora, a aproximação entre Maçonaria e Partido Republicano, acentuada desde a proclamação da República, houve de refletir também as dissensões dentro daquele Partido. O Grão-Mestre eleito em 1907, Magalhães Lima, era amigo e admirador de Afonso Costa, maçom este também, simpatizando com a ala esquerda do P.R.P., que se colocou sob a sua bandeira. Outro tanto se diria do Grão--Mestre adjunto, José de Castro, figura de relevo dentro do Partido. Quando a cisão entre Afonso Costa e os outros dois maiorais do P.R.P., António José de Almeida e Brito Camacho, se consumou, em Outubro de 1911, o Grande Oriente Lusitano foi arrastado na órbita do primeiro. Maçonaria (isto é, Grande Oriente Lusitano) e democráticos intensificaram a sua junção. A política da maioria das lojas tendeu a seguir a política radical do Partido Democrático. Acentuava-se, assim, e num sentido perigosamente divisionista e sectário, a politização da Maçonaria, que vinha já de longe. E se as divisões entre grupos republicanos eram de tal ordem que punham em perigo a existência da própria República, não parecia difícil profetizar que, mais cedo ou mais tarde, a Maçonaria portuguesa se dividiria também.
A divisão ocorreu em 1914. Como razões aparentes não se invocaram, claro está, as de natureza política. Ligaram-se antes a questões de rito e de formalidade. Entre o Executivo e o Legislativo do Grande Oriente, por um lado - Grão-Mestre, Grão-Mestre-Adjunto, Conselho da Ordem e Grande Dieta - e o Supremo Conselho do Grau 33, na sua maioria, pelo outro, surgiram problemas de tal ordem que levaram à cisão declarada. Parte do Supremo Conselho do Grau 33 considerou contrário aos acordos de 1869 o texto da Constituição maçónica de 1914 e separou-se do Grande Oriente. Com o apoio e o reconhecimento de grande número de potências maçónicas estrangeiras, constituiu a sua própria Obediência (profanamente denominada por Grémio Luso-Escocês). Para dirigente supremo - soberano grande comendador - elegeu o antigo grão-mestre general Luís Augusto Ferreira de Castro. A este novo Grémio aderiram várias dezenas de lojas e triângulos, com mais de um terço do povo maçónico português. Na verdade, as estatísticas do Grande Oriente Lusitano Unido mostram que, de 1913 para 1914, o número de maçons baixou de 4341 para 2800 e o de oficinas, de 198 para 147. A diminuição não foi toda devida ao cisma, mas é possível dizer que cerca de 1500 obreiros seguiram desde logo a dissidência, agrupados em cerca de meia centena de lojas e triângulos.
Nem todos estes maçons dissidentes tinham, é verdade, consciência plena das razões profundas que explicaram a cisão. Muitos seguiram as «luzes» da sua oficina, por respeito ou por obediência, mas sem questionarem a validade da separação. Como sempre, motivações de ordem pessoal estiveram por detrás de não poucas atitudes. Mas parece fora de dúvida que as divergências políticas entre radicais e conservadores, com sua expressão social no conflito entre grupos burgueses, se tinham introduzido na família maçónica, levando o grupo mais à direita a constituir-se autonomamente. Este grupo apoiou Sidónio Pais em 1917-18, enquanto o Grande Oriente foi perseguido e a sua sede assaltada durante o mesmo período.
A identificação do Grande Oriente com o radicalismo republicano prosseguiu. A revolução de 14 de Maio de 1915, dirigida contra a Ditadura conservadora de Pimenta de Castro, teve a chefiá-la quase só maçons: Norton de Matos, Sá Cardoso, Freitas Ribeiro e António Maria da Silva, com Afonso Costa nos bastidores. No ministério que se lhe seguiu, a Maçonaria estava representada por, entre outros, nada menos do que o seu Grão-Mestre, Magalhães Lima, e o seu Grão-Mestre-Adjunto, José de Castro, respetivamente ministro da Instrução e Presidente do Ministério. Na década de Vinte, o novo Grão-Mestre Adjunto e Chefe do Partido Democrático, António Maria da Silva, bateu o record da permanência no poder como Primeiro-Ministro, constituindo seis vezes ministério, com um total de dois anos e quatro meses de administração.
Este caráter político da Maçonaria portuguesa descontentou, todavia, muito obreiro. O número de filiados no Grande Oriente foi baixando, de ano para ano, até 1919, data em que atingiu apenas 1807, agrupados em 88 oficinas. Voltou depois a subir um pouco mas mantinha-se, por volta de 1922, abaixo daquilo que fora em 1914, já depois da cisão, com 105 lojas e triângulos apenas.
No lado do Grémio Luso-Escocês não corriam as coisas melhor. O seu contingente de filiados ia-se rarefazendo, com a saída de muitos, a entrada de poucos, e regresso de oficinas sucessivas à obediência do Grande Oriente. Em 1919, cabiam-lhe 30 oficinas tão-somente e, em 1922, este número baixara para 23. Em 1925, os perigos que ameaçavam a República e a sociedade portuguesa em geral pressionaram os dissidentes a um acordo com a casa-mãe. Os maçons reconheciam, finalmente, a necessidade de se reunirem, a fim de lutar com redobrado esforço contra o ressurgimento da reação. Nos finais desse ano foi possível chegar a uma plataforma de entendimento, a partir da qual se efetivou a união, em Março de 1926. Ferreira de Castro e alguns outros permaneceram de fora, mas a esmagadora maioria voltou a integrar-se no Grande Oriente Lusitano Unido.
Era tarde, porém, para conseguir vencer. Passados dois meses sobrevinha o movimento militar de 28 de Maio e a instauração da Ditadura. Para a Maçonaria portuguesa era o começo da agonia. Identificada com a República, caía agora com ela.
O movimento de 28 de Maio de 1926 não se repercutiu direta e imediatamente na Maçonaria. Alguns dos seus chefes, a começar pelo próprio Carmona, eram pedreiros-livres. Até 1929, a Maçonaria teve liberdade de ação, embora recrudescessem contra ela os habituais ataques e se começasse a notar certo afrouxamento da atividade devido às hesitações e ao receio de muitos filiados.
A preocupação pelos acontecimentos do País, com o marcado surto do reacionarismo em suas variadas formas e a manutenção do estado ditatorial, foi norteando, porém, a atitude da maioria dos maçons desde o movimento de Maio. Na revolta de Fevereiro de 1927 contra a Ditadura tomaram já parte numerosos pedreiros-livres. E em 31 de Outubro do mesmo ano, alarmado com a «tenebrosa construção social levada a efeito pelos jesuítas, apoiados em poderosas oligarquias financeiras e políticas manobradas a seu talante», o Conselho da Ordem, presidido pelo médico Dr. Ramón Nonato de La Féria, dirigia-se a todas as oficinas e obreiros do País, propondo-lhes um programa detalhado de contraofensiva em 23 pontos, que incidiam praticamente sobre todos os ramos da vida nacional.
Entretanto falecia, aos 7 de Dezembro de 1928, o Grão-Mestre Magalhães Lima. A Grande Dieta Maçónica elegeu, pouco tempo depois, António José de Almeida, cujo estado de saúde lhe não permitiu tomar posse. É verdade que o novo Grão--Mestre pouco tempo sobreviveu ao seu antecessor, visto ter falecido em 31 de Outubro de 1929. Mas esses curtos meses constituíram um momento crucial na história da Maçonaria portuguesa. A reação cada vez mais levantava a cabeça, apoderando-se, em ritmo acelerado, das alavancas principais do comando. Salazar, ministro das Finanças, ia a pouco e pouco tomando conta da direção suprema do Estado. Na noite de 16 de Abril de 1929, o Grémio Lusitano, sede da Maçonaria, era assaltado por elementos da Guarda Nacional Republicana e da Polícia, com a participação de numerosos civis. Foram presos e identificados todos os maçons que lá se achavam, com exceção dos oficiais do exército. Houve apreensões e atos de vandalismo. Daí para o futuro, os maçons deixaram de se poder reunir com a liberdade a que estavam acostumados, passando a depender do arbítrio do Governo Civil. Era o início da grande perseguição.
De Maio de 1929 a Março de 1930, o Palácio Maçónico encerrou as suas portas, para evitar a repetição de desacatos. Reaberto naquela data, voltou a encerrá-las meses mais tarde.
Reconhecendo a necessidade urgente de organizar uma defesa eficaz, o Conselho da Ordem, a que presidia José da Costa Pina, fez difundir a circular n.º 1, de 11 de Junho de 1929, determinando a triangulação imediata de todas as lojas. Queria isto dizer que o número de obreiros de cada loja seria dividido por cinco, desmembrando-se essa loja em tantos triângulos quantos os resultantes do quociente da divisão. Em vez de reuniões magnas, de dezenas de pessoas, facilmente detetáveis pelas autoridades ou pelos seus espiões, passaria apenas a haver pequenos conciliábulos de cinco indivíduos no máximo, possíveis de realizar em residências particulares e até em locais públicos como cafés e restaurantes. A circular n.º 1 /29 foi corroborada pela circular n.º 5/30, de 21 de Janeiro de 1930. Ao melhorarem as condições de trabalho, em Março deste último ano, foi permitido o regresso à normalidade, muito embora se aconselhassem as lojas a manter a triangulação. E muitas, com efeito, assim fizeram.
No último dia do ano de 1929, «num momento de grande gravidade para Portugal», a Maçonaria portuguesa elegia finalmente o seu chefe, na pessoa do novo Grão-Mestre, o general Norton de Matos. Logo na primeira mensagem dirigida ao «povo maçónico», em 30 de Abril de 1930, Norton acentuava os fundos problemas da realidade portuguesa, concitando a Maçonaria a marchar na vanguarda da grande obra de reorganização nacional. E continuava: «perante o tremendo desastre que representará para a Nação a vitória reacionária que se está preparando, é dever nosso [...] empregar todos os meios pacíficos e dignos de que dispomos para desviar da Pátria as calamidades que a ameaçam». E desenvolvia todo um plano de atividade, talvez demasiado utópico para a hora que se atravessava, mas mesmo assim revestido de incontestável importância.
Um ano mais tarde, na mensagem à Grande Dieta, o tom do discurso do Grão-Mestre modifica-se. Em vez das palavras de moderação e de construção pacífica, em vez dos programas de reorganização nacional, surgiam agora as expressões de luta incansável contra a Ditadura, a necessidade de «travar o último combate» contra «a definitiva e completa vitória reacionária» que se sentia próxima. E, profeticamente, predizia para a Ordem Maçónica, se a reação vencesse, «uma longa época de marasmo de inércia forçada, de desânimo e de tristeza».
A situação era, de facto, muito grave. Financeiramente, o desafogo do orçamento de 1927 convertera-se numa «situação angustiosa», resultado, sobretudo, cios deveres de solidariedade para com «a grande quantidade de Irmãos deportados, demitidos dos seus lugares, de famílias na miséria, de filhos por educar», mas também, da saída, em números cada vez maiores, de obreiros, temerosos das violências e das perseguições ditatoriais. Por falta de gente ou por impossibilidade de trabalhar, dezenas de lojas e de triângulos haviam cessado toda a atividade. Os últimos números do Boletim do Grande Oriente saíram em 1931. O total dos agremiados baixou para cerca de metade do que era em 1926: uma contagem não exaustiva dos obreiros em atividade (centenas dos quais, aliás, se achavam presos, deportados ou no exílio) indicava uns 1500 em finais de 1933, distribuídos por menos de 50 lojas e uma dúzia de triângulos. Um ano depois, estes números haviam ainda diminuído.
A gradual consolidação do Estado Novo foi um paralelo com o gradual enfraquecimento da Maçonaria. Os anos de 1931 a 1935 foram de perseguição constante. Identificada com uma causa perdida, a
Ordem Maçónica via dirigirem-se contra si todas as armas do jovem, dinâmico e forte Estado fascista. Tornou-se inimigo público número um. Não fora criado ainda o «perigo comunista» como bode expiatório de toda a violência e de todo o arbítrio. A Maçonaria era a sua antecessora. Destruir a Maçonaria tornou-se obsessão de todo o nacionalista bem formado e de todo o legionário consciente.
Em 21 de Maio de 1935 saía no Diário do Governo n." 115, 1.ª série, a lei n." 1901, que obrigava as associações e institutos exercendo a sua atividade em território português a fornecerem aos governadores civis dos distritos cópia dos seus estatutos e regulamentos, relação dos sócios e quaisquer outras informações complementares que lhes fossem solicitadas. No mais, a lei obedecia às cláusulas de base do projeto, incluindo as penalidades nele consignadas, declarações de funcionários públicos - mas não de estudantes - e venda de bens.
No entretanto, a Maçonaria adotara as medidas de emergência que se impunham. O decreto n.º 28, dos começos de 1935, re-editava o regime de triangulação para todas as lojas em moldes semelhantes ao de seis anos atrás. Depois, em 3 de Abril - ia começar, na Assembleia Nacional, a discussão do parecer da Câmara Corporativa sobre a proposta de extinção - o decreto maçónico n.º 30 entregava a plenitude do Poder Executivo ao Conselho da Ordem, em caso de falta ou impedimento do Grão-Mestre e de seus substitutos legais. Se também o Conselho da Ordem estivesse impedido de atuar, então todas as funções executivas caberiam a uma comissão de três membros, nomeados livremente pelo Grão-Mestre. Em 4 de Abril, antecipando-se à aprovação pela Assembleia do projeto, o Grão-Mestre Norton de Matos transmitia todos os seus poderes e funções ao Grão-Mestre-Adjunto, Oliveira Simões. Em 18 de Maio, sabendo-se da próxima publicação, no Diário do Governo, da lei de extinção, era a vez de o Grão-Mestre-Adjunto transferir todas as suas funções e poderes ao presidente da Grande Dieta que, por seu turno, no dia imediato, os transmitia ao Conselho da Ordem, presidido pelo Dr. Maurício Costa. Por fim, e nos termos do decreto n.º 36, da mesma data, o próprio Conselho da Ordem conferia ao seu presidente a plenitude dos poderes legislativo, executivo e judicial.
Triangulada a Maçonaria e concentradas todas as funções superiores numa só pessoa, haviam-se criado as condições indispensáveis à operacionalidade da Ordem em regime clandestino. De então em diante, e até 1957, os dois presidentes do Conselho da Ordem em exercício, Dr. Maurício Costa, primeiro, e Dr. Luís Gonçalves Rebordão, depois, asseguraram a sobrevivência da Maçonaria e a ação possível que esta podia desempenhar no difícil enquadramento da ditadura fascista.
O Grémio Lusitano, não podendo acatar o texto da lei, foi dissolvido. A sua sede, confiscada pelo poder público, foi cedida à Legião Portuguesa, que nela instalou um dos seus quartéis. Por todo o País outro tanto ocorreu com as sedes das lojas e triângulos, sempre que eram próprias. Uma pequena parte dos haveres confiscados - como pendões, insígnias, livros, fotografias, etc. - iria, mais tarde, decorar duas vitrinas da famosa «escola» da não menos famosa P.I.D.E., a Sete Rios (Lisboa). A biblioteca e parte do arquivo entraram nos haveres do Ministério das Finanças, onde viriam a ser encontrados depois do 25 de Abril. O Grémio Luso-Escocês desapareceu, abatendo colunas.
Os funcionários do Estado, durante anos, foram obrigados a assinar a declaração que a lei lhes prescrevia. Quantos, entre eles, não eram maçons! Muitos obreiros entraram nas prisões do Continente e das Ilhas Adjacentes ou sofreram perseguições e discriminações de outro tipo.
A Maçonaria, no entretanto, subsistiu na clandestinidade, embora o número de obreiros diminuísse constantemente e o número de lojas fosse cada vez menor. Empurrada, pelo simples facto da sua interdição, para a luta de resistência ao Fascismo, participou nos mais importantes combates do período 1935-74, quer no campo da luta armada quer no da propaganda e atividade eleitoral.
Em 1974, após a Revolução de 25 de Abril, o Grande Oriente Lusitano voltou à luz do dia, sendo-lhe restituído o Palácio Maçónico e paga uma indemnização oficial. A Obediência reconstituiu-se lentamente mas conseguiu, a pouco e pouco, recuperar parte da influência perdida. Em 1984, uma cisão ligada às Maçonarias anglo-saxónicas, ditas «regulares», levou à constituição posterior da Grande Loja Regular de Portugal, com sede no Monte Estoril. Esta Maçonaria viria a instalar também um segundo Supremo Conselho. Igualmente se constituíram uma Maçonaria Feminina e uma Maçonaria do Direito Humano.
Do francês maçonnerie, «idem»

A maçonaria é uma sociedade secreta cuja doutrina tem como rótulo a fraternidade e a filantropia universais e que usa como símbolo os instrumentos do pedreiro e do arqueteto (o triângulo e o compasso).
  


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